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O reEncontro

Atualizado: 14 de nov.


Ela caminha a passos largos pelos corredores cheios de um shopping em direção a um restaurante, onde marcou com aquele que ainda era o seu amor. Ela estava ansiosa. Foi pega de surpresa pelo telefonema dele. Informando que estava em Salvador e precisava conversar com ela. Ele, por sua vez, já estava no restaurante, também ansioso em falar com ela.

Antes de entrar no restaurante, ela se ajeita mais uma vez, passa a mão nervosamente pelos cabelos curtos e entra de forma séria. Ela não quer demonstrar nenhuma reação sentimental, nem menos um sorriso tímido. Tenta disfarçar seus sentimentos. Seus olhares se cruzam, ele se levanta e espera ela sentar. Se cumprimentam timidamente pelos olhares e dizem quase ao mesmo: Como vai?

A primeira impressão que trocam é de pura admiração, mas de forma silenciosa. Ele a vê de forma diferente, mais bonita e mais independente do que nunca. Ela, por sua vez, olha para aquele que continua lindo, saudável, que o tempo não parece ter passado. Faz dez anos ou mais desde aquele último encontro do aeroporto.

Ele pergunta se a moça deseja alguma coisa. Ela responde quase secamente, para disfarçar os sentimentos, apenas uma água com gás. Enquanto esperam, o garçom trazer as bebidas pedidas, ele começa a falar que estava arrependido da sua última atitude. Ele tinha terminado e dito que a relação fora um erro, porque queria afastar-se dela definitivamente da sua vida.

Ele disse que lutou muito para negar os sentimentos e até tentou novos relacionamentos amorosos para tentar esquecê-la. Tudo em vão, quanto mais ele negava, mais o amor crescia no coração e ele passou a vê-la em todos os lugares. Ele não parava de sonhar com ela. Os pensamentos eram quase obsessivos. Tudo que fazia diariamente tinha fatos ou coisas que o faziam lembrar dela. O nome dela ouvia por todos os lugares onde andava. O coração doía de ficar longe dela e a tristeza foi tomando conta da vida dele. A vida dele ficou estagnada.

Ela, que estava ouvindo atentamente o desabafo e que não parava de fitar direto nos olhos dele, lembrou da conexão amorosa que a fazia sentir o mesmo e não conseguiu se controlar mais. Os olhos começaram a marejar e as lágrimas rolavam em seu rosto levemente maquiado. Ele parou de falar e a olhou com ternura. Ela deixou as palavras escaparem bem baixinho: - Não pare, por favor, continue... quero saber de toda a verdade. 

Ele, por sua vez, levantou-se e a abraçou, dizendo: - Eu sei que fiz você sofrer. Estou pedindo perdão. Resolvi recomeçar minha vida com você. Eu não quero mais negar o amor que sinto por você. Procurei em cada namoro que tive, o que você sempre me deu sem muito esforço, mas nunca o encontrei.

Parou de falar por instante. Pegou um pouco da água e deu para ela se acalmar. E continuou: - Você sempre cuidou de mim com tanta dedicação. Deixe-me cuidar de você agora. Vamos sair daqui? Ela concordou, acenando com a cabeça. Pediram a conta e os dois se levantaram, quase ao mesmo tempo.

Caminharam juntos, mas levemente distantes, pelos corredores do shopping. Ele para na frente de uma farmácia. Entra e diz à balconista: - Por favor, um paracetamol. Vira-se, olhando para ela: - É para você não ter dor de cabeça. O gesto que era tão simples, mas a fez pensar mentalmente desconfiada: – Estou sonhando. Ele está diferente mesmo? Parece mais cuidadoso comigo. Até parece aquele rapaz por quem eu me apaixonei. O rapaz cujos olhos brilhavam de amor quando olhava para mim.  Que me chamava carinhosamente de gata e a qualquer aproximação de outro rapaz, deixava claro e de forma educada que eu já tinha um parceiro amoroso. Lembrei-me de que ria discretamente do ciúme dele, pois nem conseguia mais enxergar ninguém. O meu amor era só dele.

 

- Vamos para um lugar só nosso? O convite parecia prazeroso. As palavras dele interromperam os pensamentos dela. Ela tentou relutar, mas falou que sim. O Uber chegou. Ele abre a porta romanticamente para ela entrar no carro. Sentados no banco de trás, ele a aconchega nos braços. Dessa vez, ela não luta e deixa ele chegar mais perto.

 

Eles chegam no hotel. Ele a conduz para o quarto e diz: vamos continuar conversando. Ela novamente acena positivamente com a cabeça. Os dois entram em silêncio. Ela senta-se em uma das quatro cadeiras colocadas na sacada do quarto e ele recomeça dizendo que a verdade era dolorosa, mas eles precisavam daquela conversa:

 

- Pensei que poderia seguir sem você e que o tempo apagaria o que existe entre nós. Ele lembrou do silêncio, das fugas, das escolhas que fez... Ele diz novamente que negou o que sentia, negou a profundidade da conexão e negou finalmente o impacto que ela tinha na vida dele. Ele se escondeu em outras relações, porque sentia medo de se entregar àquele sentimento tão forte. Criou rotas de fuga, em distrações, em silêncios, mas nenhuma dessas estratégias se sustentou por muito tempo. Ele reconheceu que não podia mais fugir, que o vazio que sentia estava insuportável e que negar o que sentia por ela só aprofundou a dor. O arrependimento tinha chegado e precisava mudar a forma de ser para ele se reaproximar.

 

De novo, ela a deixa falar livremente. As lágrimas recomeçam a cair do seu rosto. Mas ela não chora por ela. Chora porque percebe a vulnerabilidade dele. Chora por aquilo que sentia por intuição. Ele estava mostrando, pela primeira vez a sua verdade, sem armaduras, sem máscaras. Aquele arrependimento que ele demonstrava era o sinal da sua transformação.

 

Quando ele finalmente para de falar, ela com bastante calma, retoma o controle emocional e diz: - Eu agradeço por você falar a verdade comigo. Sempre esperei por isso. Fui paciente. Mas não posso negar que fiquei decepcionada com suas atitudes de frieza, indiferença e egoísmo. Eu te perdoo. Sabia que você negava os sentimentos. Eu fui embora da sua vida porque sei que amor não se implora. Amor se tem. Aprendi nesta distância a me amar mais. Eu já tinha falado que o maior foco da minha vida era evoluir. E estou fazendo isso cada vez mais por mim.

 

Ela sabia que tinha que estabelecer, naquele momento, limites na relação e continuou olhando nos olhos dele: - Quero construir uma relação amorosa saudável. Eu não espero que ninguém me complete. Quero um parceiro que some comigo e que construa comigo um propósito de vida como casal e individualmente. Eu sei exatamente o que eu quero para a minha vida. E você o que quer realmente comigo? As palavras dela ainda ecoam, quando de repente, ela acorda e vê que tudo não passou de mais um sonho e de que aquela conversa era pura ilusão.


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